RIO – Um grupo internacional de pesquisadores anunciou na manhã desta quinta-feira a confirmação da existência de um grande espaço vazio escondido no interior da Grande Pirâmide de Gizé, no Egito. Com 139 metros de altura e laterais de 230 metros de comprimento, a Grande Pirâmide de Gizé, também conhecida como Pirâmide de Quéops, ou KhuFu, é o único monumento sobrevivente das chamadas “Sete Maravilhas do Mundo Antigo”, mas ainda guarda muitos mistérios para os cientistas, que ainda debatem como ela foi construída e esquadrinham sua estrutura e arquitetura.
Atualmente, a Grande Pirâmide de Gizé tem três câmaras conhecidas: a Câmara do Rei, maior e no ponto mais alto; a Câmara da Rainha, logo abaixo; e a pequena e “inacabada” Câmara Subterrânea. Essas câmaras estão “ligadas” por vários corredores, sendo o maior deles uma larga passagem em ascensão, a Grande Galeria, entre as duas primeiras.
O espaço vazio recém-descoberto, por sua vez, está logo acima da Grande Galeria e teria dimensões comparáveis com ela, com pelo menos 30 metros de comprimento, oito de altura e largura entre um e dois metros. Tanto sua função arquitetônica quanto importância arqueológica, porém, permanecem desconhecidas, o que faz os cientistas evitarem em classificá-lo como uma “câmara secreta”.
– Evitamos usar a palavra “câmara” porque não sabemos se este espaço é uma câmara mesmo – destacou Mehdi Tayoubi, do Instituto de Inovação para Preservação da Herança Cultural (HIP, em inglês), na França, em teleconferência com a imprensa realizada nesta quarta-feira. – O que sabemos é que há este grande espaço vazio com características semelhantes às da Grande Galeria. Quem já entrou nela sabe que você se sente como em uma grande “catedral” no centro do monumento, uma estrutura impressionante, e este espaço vazio deve ser parecido. Mas não sabemos ainda se ele é na horizontal ou inclinado como a Grande Galeria, nem se é composto por uma única estrutura ou várias sucessivas. O que temos certeza é que este grande espaço vazio está lá, é impressionante e sua existência não era prevista por nenhuma teoria.
O espaço dentro da pirâmide foi descoberto graças ao projeto Scan Pyramids, que usa tecnologias inovadoras para estudar o monumento de forma não invasiva e, assim, evitar danificá-lo. Conhecidas pelo nome genérico de múongrafia, essas tecnologias tiram proveito de avanços na física de partículas para fazer imagens do interior da Pirâmide de forma semelhante que médicos usam raio-X para ver o interior do corpo humano.
No lugar dos raios-X, no entanto, a múongrafia tem como ponto de partida, como o nome indica, os múons. “Primas” dos elétrons, essas partículas subatômicas são geradas pela colisão dos chamados raios cósmicos – em geral prótons simples ou partículas alfa (compostas por dois prótons e dois nêutrons) – que viajam a altíssimas velocidades pelo espaço com átomos da atmosfera terrestre e “chovem” pelo planeta, com milhões deles “atravessando” nossos corpos todos os dias.
Bem mais maciços que os elétrons, porém, alguns múons acabam sendo desviados, desacelerados ou absorvidos ao interagir com a matéria. Assim, os cientistas criaram filmes e equipamentos especiais para detecção dessas partículas que mostram quando eles enfrentam áreas e maior ou menor densidade. E foi usando três métodos que tiram proveito dessa capacidade, como a dos raio-X quando “batem” em um osso, que os pesquisadores encontraram o espaço escondido na Grande Pirâmide.
Mas os métodos de múongrafia ainda são muito lentos e de baixa resolução. Para conseguir encontrar o espaço vazio na Grande Pirâmide, os equipamentos tiveram que operar durante meses seguidos ao longo dos últimos anos. Eles também só conseguem fazer a detecção das partículas que “chovem” do céu de determinadas direções, o que limita seus ângulos de observação.
– Mas se deixarmos os hodoscópios cintiladores (um dos equipamentos usados na múongrafia) dentro da Câmara da Rainha por muitos anos poderemos ter imagens mais precisas do que está acima e seremos capazes de detectar estruturas menores – destacou Tayoubi, também principal autor de artigo sobre a descoberta, publicado em adiantamento on-line nesta quinta-feira na prestigiada revista científica “Nature”. – Ainda precisamos entender o que este espaço é. Talvez o estudo de outras estruturas da arquitetura egípcia possa nos dar algumas hipóteses ou alguma explicação arquitetônica para este espaço vazio, mas o importante no momento é que provamos que podemos ver grandes estruturas desconhecidas dentro da pirâmide como a Grande Galeria.
Fonte: Cesar Baima – EXTRA